Coluna de Ciências

Sem flores e insetos, não se têm vida!

Ah... verão, você me encanta, mas andas surpreendendo! Um frio gostoso nas
noites com ventos uivantes pelas frestas de janelas e portas. Em casa, alguns se
sentem protegidos da noite cantante, mas têm os que se sentem quase em desabrigo. O
sol preguiçoso, ameaça esquentar no verão e, mais amarelo, destaca as sombras para
embelezar as fotos. Nas ruas, os ipês amarelos insistem em florir, quase a resistir e a
persistir. Os ipês brancos e rosados já se foram, junto com o frio cortante de junho!

Poucos reparam, apesar das flores azuis, mas os jacarandás estão soltos nas
praças e ruas. Explícitos demais são os tapetes urbanos e amarelos embaixo das copas
frondosas das sibipirunas. Mesmo assim, alguns nem reparam, como autômatos e
calculistas precisam cumprir apenas o apertar dos parafusos e botões em seu trabalho.

Os entediados reclamam das flores caídas pelas suas vassouras gastas e ralos
entupidos: coitados, estão cansados e tristes de viver!

Nos galhos retorcidos e secos, os flamboyants ainda estão rachando suas vagens
antigas a soltar sementes, mas já florescem o alaranjado de suas orquidáceas e
sensuais pétalas. Veja bem de perto suas flores, pendões e botões; são sensuais!

No virar esquina se depare também com os cachos e lustres de acácias que
resistem teimosamente ao vento. Só faltam tilintar como cristais a cada balanço da
brisa. Que é isso! Falta nada, eu escuto-os na minha imaginação! Os cachos floridos
são verdadeiros mensageiros do vento nas varandas e alpendres a chacoalharem e
tilintarem para acalmar os espíritos humanos ansiosos e cansados no final do dia!

As buganvílias ou primaveras não se fazem rogadas e exibem o vermelho
rutilante que nos deixam calados e perplexos pela abundância e vivacidade de tons.

Para alguns, uma flor é nada mais do que uma flor! Para outros uma orquídea é arte
virginal e natural em suas formas sugestivas e sensuais. Para uns, flores sujam
calçadas e quintais, mas não importa, para outros, desembaçam a vida opaca pela
estupidez deste infindável mar de reclamações e exigências que as pessoas fazem até
consigo mesmo, deixando tudo azedo ao seu redor!

Ipês, flamboyants, jacarandás, acácias e buganvílias derramem e soltem suas
flores por mim e pelos que amam, sem pensar que isto seja inconsequente! Aos chatos
de medo, precavidos sem sabores lúdicos e aos que reclamam de tudo todos os dias,
livrem-se das algemas do bom senso aprendam com as árvores e flores: sejam
explícitos, exuberantes, intensos e desprendidos. Faça isto, mesmo que no resto do
ano, fique apenas construindo uma nova florada ou paixão! Esta é uma boa época para
repensar.

Em qualquer flor há uma imitação genital de insetos que, atraídos e traídos,
sujam suas patinhas numa pseudo cópula vegetal. No próxima flor, que o pouso
sedento de amor e os pés “sujos” de pólen, fecunde-a para que novos e viçosos frutos
e flores possam abundar nossas bocas e olhos na busca frenética, cíclica e
aparentemente infindável de viver! A polinização nos sustenta e isto é incrível:
dependemos das flores e insetos.

As plantas não andam e nem procuram alguém para fazer amor e passar o seu
DNA, gerando frutos. Precisam dos insetos carregados e “sujos” de pólen para levar
os genes de planta em planta, gerando frutos e cereais que nos abundam de energia!
Insetos e flores, se amem, se lambuzem em patinhas e genitais polinizadas. Flores e
insetos simbolizam o amor no fato em si mesmo e no objetivo de proliferar e produzir
dos vegetais! Matar insetos, acabar com as abelhas e passarinhos e usar venenos em
nossas lavouras é acabar com tudo isto! Discuta isto com seus amigos e parceiros.

A última primavera acabou, mas o verão também é florido por aqui. Com seus
eventuais ventos levemente frios a arejar nossa pele, o verão sugere amor e uma
vontade louca de polinizar, mesmo que seja apenas nas lembranças. A pele humana
sugere pétalas em sedantes superfícies a exalar sabores e odores pelos ares à busca de
novos pólens aos que querem loucamente fecundar! E que seja assim até o último dos
suspiros, mesmo que eu veja estas flores apenas pela janela de um leito à espera da
morte ou de um novo ciclo porvir!

Admiremos!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)