Coluna de Ciências

São heróis contra a ignorância!

Incipiente com “c” é o iniciante ou neófito na arte e ofício que abraça para dar sentido à vida. Insipiente com “s” indica o ignorante, o antônimo de sapiente e profundo conhecedor que circula pelo conhecimento com se estivesse entre as plantas de seu jardim e com toda intimidade com o saber.

O professor era o detentor do conhecimento e, na sala de aula, o repassador do saber científico. Sua autoridade nem era questionada e a sabedoria reconhecida de pronto, mesmo quando não a tinha. Na aula a quietude imperava, cada palavra perdida, não dava para recuperar, não havia gravador, vídeo e arquivo na internet. O momento da aula era único e a única forma de recuperar era emprestar o caderno do colega que anotava tudo!

Em escolas americanas, especialmente universidades, o professor conhece muitos alunos apenas no dia da avaliação presencial. O aluno opta por não ir a aula com o professor. Prefere ficar em casa ou biblioteca e assistir os arquivos postados na rede. Ele pode aprender sozinho, muitos aprendem sozinhos. Quantos auto-ditadas você conhece?

Muitos professores reclamam que os alunos atuais são inquietos e cheios de questionamentos paralelos. Apenas nos interessamos e concentramos pelo que gostamos ou precisamos. Se professor não é mais detentor do conhecimento, por que prestar atenção em sua aula se depois está tudo no computador!

E AGORA?

O professor atual é facilitador, orientador na interpretação e busca do conhecimento. Não fica mais repetindo informações, mas indicando caminhos. Os que insistem, tem problemas de convivência. A informação está nos bancos de dados de sites, dicionários e enciclopédias virtuais. O acesso se faz em celulares e computadores. Professor deixou de ser autoridade por si só, virou parceiro, orientador e a linguagem deve ser a do grupo predominante. É difícil ser professor? Se gostar de interagir com o outro em condições de igualdade, mesmo que a diferença seja explícita, será muito bom!

Ser professor é o exercício pleno da tolerância e amor com o próximo diferente, questionador e chato! Os com menos de 40 anos, não querem esperar que no amanhã as coisas serão melhores: querem saber hoje, o que vão ganhar amanhã antes de executar o trabalho. Não existe mais a cultura do plantar hoje para colher amanhã. Isto é coisa de agricultor, que pode não colher. Tudo tem que ser explicitado, fundamentado e justificado, caso contrário não farão.

O professor até poderá ser respeitado, mas deverá mostrar antes sua sabedoria, sua capacidade de liderança, o respeito com o diferente e o amor com o próximo. Depois que isto acontecer, será extremamente respeitado. Os primeiros dias e semanas de aula são cruciais: o professor será apenas mais um humano entre os alunos! Não será nada de especial, apenas quando se justificar que o é!

TUDO OU NADA

Já me questionei nestes últimos 20 anos de uma carreira docente de 40: eles não estão certos nesta postura? Estão. E aplicam na docência a ferramenta básica da ciência: o ceticismo! Por que acreditar sem ver ou checar? O cara tem que mostrar a que veio. Tantos prometem e não entregam na política e comércio, por que assim não seria na docência?

O professor deve ser líder, exemplo, facilitador, orientador, parceiro e um educador por excelência. Deve ser treinado em excelentes cursos, investir-se em sua formação. Se não pagarem dignamente ao professor, que deixem de exercer a profissão. Professor participa da formação de todos, tem que ganhar muito bem, especialmente os das primeiras séries, onde substituem o que os pais faziam na educação de seus filhos!

As pessoas adoram reclamar, parece que o mundo está todo errado. Analise cada uma das reclamações: todas tem como pano de fundo a ignorância! A grosseria, intolerância, ódio, estupidez, corrupção e violência são filhos da ignorância ou falta de conhecimento, sabedoria e cultura.

Se quisermos melhorar o convívio social e o país só temos um caminho: valorizar muito financeiramente os professores, heróis que lutam contra a ignorância, e mutiplicá-los como agentes de mudança. Fora disso, mudem e reformem o que quiser, restará apenas o abismo da estupidez!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)