Coluna de Ciências

Que sejamos felizes: desapeguemos!

Muitas casas são demolidas para dar lugar a outros prédios! Quase tudo que por aqui se demole, e ser for esquina, vai ser farmácia! Se for no meio do quadra, vai surgir mais uma loja de colchão! Remédios e colchões, parece que o mundo está se transformando em enfermaria!

Carros duravam a vida do dono; depois foi reduzindo o tempo de uso para 10 e agora está em 5 anos. Carro com mais de 5 anos é velho! Discute agora se 5 anos não é demais, afinal a economia tem que girar: o capitalismo é cruel, tem que lucrar, o dinheiro deve rodar de qualquer jeito! Computadores, roupas e eletrodomésticos parecem amor de verão: dura-se uma temporada!

No mundo da informação um conhecimento tem valor prático ou comercial apenas por 5 anos, depois disso adquire caráter histórico, valor afetivo ou recordação! Se alguém fez uma faculdade há mais de 5 anos, esquece! Sua faculdade não existe mais! Agora por lá, se está ensinando outras coisas, com outros professores e funcionários!

Se alguém se apresentar no currículo como empregado por mais que 2 anos numa empresa ou instituição, a tradução feita pelos especialistas será: este cara é um acomodado, não gosta ou não aproveita novas oportunidades, não tem ambição na vida, não inova e nem tem criatividade para melhorar suas condições, é um apegado. Empregos com mais de 2 anos acabam sendo ruim, uma mancha! Assim como morar na mesma cidade por todo tempo, ou na mesma cidade onde nasceste, indica que és passivo.

TRANSITORIEDADE

É quase démodé ser casado uma vez! Até o papa anda valorizando os divorciados. A transitoriedade está em voga! Tudo é passageiro, mas isto é bom ou ruim? Para a transitoriedade se requer um sentimento muito importante: o desapego! Despegar–se do carro, casa, móveis e outros objetos requer o exercício de que nada é nosso, tudo é temporário, inclusive a vida por aqui! Isto pode nos fazer aceitar melhor a morte. Saber que somos temporários ou transitórios nos leva a refletir: a que ou a quem devo me apegar? Aliás, eu devo me apegar?

Talvez possamos pensar: mas, amar é se apegar! Se apegar pode ser o contrário de amar. Se apegar é quase ser possessivo, é querer controlar para não perder, é invadir individualidades, é não aceitar a felicidade do outro se for distante ou sem você. Ah ... o verdadeiro amor exige desapegar-se da pessoa: … o meu desejo é que sejas sempre feliz! É claro que ser for ao seu lado, será muito melhor, perfeito e uma felicidade imensa, mas primeiro de tudo eu quero que sejas feliz! Assim parece ser o amor verdadeiro.

A (in)felicidade de cada um depende dos apegos que constrói. Uma pessoa pode ter sonhos realizados e, em pleno uso deles, ter uma vida como curtir o entardecer ou amanhecer, passear com seu cão, sair com amigos para conversar, passear na banca de jornal, frequentar cafés e livrarias, etc. Mas, a maioria das pessoas sempre sonha com o que não tem, mesmo que o que tenha hoje, tenha sido o sonho anterior. Se está sempre buscando o que não tem e quando consegue fica apegado à casa, emprego, carro, etc. Tem pessoas com apegos aos seus sonhos, não vive o sonho conseguido! Está sempre infeliz e ansioso.

DESAPRENDER

Assim também ocorre com o conhecimento. Até os 22 anos só aprendemos, mas depois de preenchidos os ‘espaços cerebrais’, para acrescentarmos mais coisas na memória precisamos trocar os conhecimentos velhos e ultrapassados por novos, mas isto requer desapego quanto aos conceitos antigos! Após 22 anos, para aprender demora-se mais ou é mais difícil por que não aprendemos a desapegarmos! Depois de adultos aprender não dói, o que dói é o desaprender, pois requer desapego!

Desapegar de conceitos e conhecimentos antigos, substituindo-os por novos lhe permite uma visão contemporânea de mundo. O que passou, passou, desapegue! Com esta postura mental de desapego acontecerá o mesmo com as mágoas, tristezas e recordações desinteressantes!

Reflita sobre o seu grau de desapego com objetos, pessoas e conceitos. Responda pra você mesmo: ao que mais me apego nesta vida? O apego é quase sinônimo de sofrimento e o desapego, de felicidade. Somos transitórios e temporários, nada por aqui nos pertence; desapeguemos e sejamos felizes!