Coluna de Ciências

O brigadeiro gostoso e o orelhudo!

Algumas vezes me abordam: - Ei, você que sabe tudo ... e me fazem perguntas sobre coisas intrigantes! Quando não sei, vou buscar a explicação até achar, mas as vezes demora anos para encontrar e sinto uma alegria inexplicável. Na segunda vez que me perguntarem a mesma coisa, não me pegarão mais de surpresa. Parece coisa de maluco, mas sempre fui assim, um curioso incorrigível!

Uma dessas perguntas foi:- por que o doce mais popular das festas, especialmente as infantis, se chama “brigadeiro”? Quando respondo quase todos ficam encantados e retrucam: - como é que sabe essas coisas? E digo: nos mesmos livros, revistas, sites, blogs e redes que vocês têm acesso. É que procuro e não desisto.

Mais recentemente uma revista nacional foi questionada por um leitor qual seria o motivo de tal nome e os redatores disseram que isto não tinha explicação apesar de tratar de uma guloseima de origem e existência quase que exclusiva do Brasil, tal qual a jabuticaba.

Na disputa presidencial de 1945 para a sucessão de Getúlio Vargas havia dois candidatos. Pela União Democrática Nacional (UDN) o candidato era o brigadeiro Eduardo Gomes e pelo Partido Social Democrata (PSD), o general Eurico Gaspar Dutra, que contava com o apoio e popularidade do presidente. Apesar de não contar com o apoio do carismático Getúlio Vargas, Eduardo Gomes era muito querido, admirado e popular no eleitorado feminino, pois além de bonito e alto era solteiro, nunca havia se casado. Um de seus lemas na campanha era “Vote no brigadeiro que é bonito e solteiro!”.

Sem as vultuosas quantias e poderio econômico atual, as campanhas eleitorais eram singelas e contavam com o envolvimento das pessoas em defesa e propaganda de seus escolhidos. Para arrecadar fundos financeiros para a campanha de Eduardo Gomes, as mulheres em comícios e reuniões faziam um doce misturando leite condensado com chocolate em pó e deixava-o arredondado. Cada docinho era vendido individualmente e a guloseima agradava em cheio os colaboradores de Eduardo Gomes e passou a ser chamado de “o docinho do brigadeiro”.

A campanha passou, mas o docinho continuou com o mesmo nome e até hoje todo mundo o conhece como “brigadeiro” nas sobremesas de festas infantis. Muito embora tenha marcado a vida nacional emprestando o nome de seu cargo máximo na Força Aérea Brasileira, o Brigadeiro Eduardo Gomes perdeu a eleição com 35% dos votos contra 55% do General Dutra que governou a partir de 1946.

ORELHUDO

O pai em seu simplicidade sempre dizia: - meus filhos, antes de sair de casa vão até o banheiro e examine suas caras no espelho. Nela temos um recado explícito: - se tens duas orelhas e uma boca, a mensagem é que devem ouvir muito mais do que falar. Falar é prata, ouvir é ouro! Pura verdade.

Sempre me impressionei com a forma e o tamanho da orelha e do nariz, um tanto estranha ou diferente. Ainda mais dos mais velhos. As orelhas ficam como solas de sapatos ou verdadeiras asas laterais da cabeça que nem os cabelos cumpridos conseguem disfarçar! A medida que o tempo passa, as orelhas vão crescendo como a dizer: escutem mais, cada vez mais!

Alguns anos atrás o médico inglês James Heathcote foi mais científico e mediu a orelha de 206 pacientes com idade entre 30 a 93 anos de idade. No período de 50 anos nossa orelha cresce em média espantosos 1,2cm no comprimento. A cartilagem é o tecido que forma orelhas e nariz e nos ossos contribui muito para o crescimento do esqueleto induzido pelos hormônios.

Sem hormônios, ossos param de crescer no adulto, mas eles não tem ação nas cartilagens que crescem sem parar a vida inteira, apesar de lentamente, mas somando-se décadas apresentam aumentos significantes. Estou ficando cada vez mais orelhudo e narigudo. Talvez a natureza queira dizer: escute cada vez mais e prospecte o ambiente com seus odores. Em outras palavras: procure ser sábio, observador e reflexivo!

Uma reflexão inevitável e atual: os críticos, inquietos, ansiosos e severos com o tempo são sempre cobrados em sua coerência, e todos – enfatizo todos - sucumbem amanhã nos mesmos erros que apontou, julgou e condenou!

Que sejamos mais doces, observadores e tolerantes: cada um tem sua hora!