Coluna de Ciências

A parte mais importante do corpo!

Era um professor que amava seu ofício e suas pesquisas buscavam respostas para ensinar abrindo cortinas de palcos cheios de histórias e verdades. Tão apaixonado pela arte de ensinar que a compara com o teatro em suas formas de ver o mundo do sorriso ao pranto, da comédia à tragédia.

Para ele o palco mais bonito e adorado é o Teatro Arthur Azevedo. Em seus sonhos sempre acaba a última aula da vida ajoelhando-se no sagrado tablado em São Luís. Nos seus devaneios deseja, mas na maturidade da vida se conforma, é um sonho quase impossível.

Sempre ensinou as doenças da vida e seus mecanismos de evolução a seus alunos destacando-se que ao sabê-los teriam a plena ideia das condições em que foram contraídas! E ao tomar consciência disto, seriam sabedores das condições de vida de seu povo e proporiam mudanças e lutaria por elas. Seriam seres conscientes socialmente, politicamente atuantes e intelectualmente inquietos para buscar atenuar o sofrimento das pessoas!

Neste ano o experiente professor decidiu acrescentar um exercício novo a cada aula de 4 horas de atividades e seria ministrada por 15 semanas. Distribuía para cada um dos 50 alunos um pequeno envelope com um cartão de papel pequeno. Cada aluno no final da aula deveria acrescentar a resposta no cartão para a pergunta:

- Qual a parte do seu corpo que consideras como a mais importante para sua vida?

A cada aula o professor comentava qual foi a parte mais indicada na aula anterior e dizia que ninguém havia acertado. No primeiro dia, a parte campeã de citações foram os olhos. Os olhos podem ser importantes, mas têm muitas pessoas que sem os olhos são felizes, trabalham, se divertem, têm filhos e se sentem completos na vida.

Em um dos dias, o professor comentou que a parte mais indicada foram as orelhas. Mas como seriam as orelhas! As pessoas conseguem viver sem elas, sem ouvir falam com as pessoas pelos sinais, sorriem, participam da vida social, fazem famílias, trabalham e se sentem amadas e participativas. Sem orelhas e ouvidos se pode ser feliz!

A cada semana mudava-se a parte mais citada. E disse o professor: desta vez foi o coração, logo o coração. Podemos viver sem ele, pois até coração artificial existe. Se não parar para pensar, ou se ele não falhar, nem se percebe que existe. O coração é um aparelho para bombear sangue para o corpo. Pessoas com coração doente ou artificial conseguem ser felizes e amam, afinal quem ama é o cérebro! Ou seria a alma?

Se fosse o cérebro não haveria mais sentimentos após a morte! Se fosse a alma, continuaríamos amando, mesmo depois do corpo decomposto. De vocês, quem se habilita dizer quem ama: cérebro ou alma? Em uma das semanas haviam escrito que a parte mais importante era o cérebro e o professor questionou se havia vida sem cérebro, sem consciência cerebral ou sem saber quem somos? Sim, há vida sem ele, logo não seria a parte mais importante.

Na penúltima semana disseram que a parte mais importante do corpo eram os órgãos genitais. Claro que é gostoso fazer sexo, namorar e ter prazer, disse o professor, mas crianças e algumas situações não tem sexo e se é feliz. Nem tudo seria sexo, muito embora Freud não concordasse com isto!

No último dia de aula o professor abordou a parte final da pesquisa e disse: hoje não comentarei a parte mais citada, pois pela primeira vez, um de vocês citou a resposta correta: os ombros!

Simone, questionou o professor, por que você respondeu “os ombros” apenas agora no final? Ela disse: Só agora tive coragem e ousadia, sempre os considerei e os ofereci aos que precisam de amor e carinho incondicional, sem perguntar ou questionar. Quando perdi meu pai por acidente e, mãe por câncer, os ombros amigos que me acolheram foram refúgio e pilares para devolver a vontade de viver! Sem ombros, ninguém sobrevive!

Completou o professor! - Todos precisam de ombros para chorar em algum momento! Ser acolhedor é necessário, sem questionar, sem cobrar, de graça mesmo. Isto é amar o próximo. Por isto agradeço aos ombros presenciais e virtuais que em suas roupas e peles deixaram escorrer minhas lágrimas de desespero e dor!

Alunos e professor se abraçaram e choraram, ombro a ombro!