Coluna de Ciências

Tirem as cadeiras: elas fazem mal!

Confesso: gosto de ficar sentado, mas a ciência mostra que não é um bom negócio. O tempo de vida é maior e o grau de problemas físicos e psicológicos muito menor quando a pessoa permanece em pé o maior tempo possível. O contrário é verdadeiro: quanto mais tempo sentado, menos tempo de vida e maiores os problemas com doenças.

Isto me lembra a música “A casa” de Sergio Bardotti e Vinícius de Moraes imortalizada na voz de Toquinho. A letra não fala se havia cadeira, mas como não tinha chão, eu suponho que cadeira não tinha ali. Em uma casa sem nada para sentar como receberíamos as pessoas sem o “entre e sente por gentileza”. Ficaria mais perto do “entre e sinta-se a vontade, como estivesse na sua casa”: ai que medo heim!

O homem não nasceu para ficar sentado, nasceu para apoiar-se nas duas pernas ou de quatro, mas sentado fica esquisito. Imagine cachorros, cavalos, galos e galinhas, gatos e onças, girafas e baratas sentados! Homem sentado é ridículo, as pernas e braços soltos no ar e os glúteos apoiados no assento. Tão ridículo que precisa de encosto para ficar estável. Não se convenceu? Então imagine você visitando o zoológico e todos os animais nas jaulas sentados em cadeiras: seria muito estranho!

Quando falo em cadeiras lembro das mulatas, das cadeiras ou cátedras das universidades, do “chá” de cadeira e da dança das cadeiras. Cadeiras são mais caras que mesas e outros móveis, pois é difícil fazê-las, leva tempo! E agora sabemos que cadeiras fazem mal no reaprender constante da metamorfose ambulante.

Algumas empresas modificaram o ambiente para que pessoas possam trabalhar em pé nos computadores e afazeres. Restaurantes e refeitórios foram adaptados para se comer em pé. Amar em pé é melhor que sentado? Cuidado, pois chega uma hora que teremos que deitar!

Em média o ser humano fica sentado 12h diárias. Um estudo feito em 2010 com 8.800 pessoas adultas por sete anos revelou na revista “Circulation”: as que ficaram mais de 4h por dia assistindo televisão apresentaram 46% mais mortes do que aquelas que permaneceram sentados por menos de 2h por dia. A morte precoce é mais frequente nos sedentários que ficam mais tempo sentados. O risco é 50% maior de morte precoce nos que não se movimentam e ficam mais tempo sentados. Ficar sentado na maior parte do dia dobra o risco de diabete melito e de problemas cardiovasculares. Já tô em pé!!!

Estudo no Canadá e Austrália revelou que ficar sentado faz mal para a cabeça! Em 9 mil mulheres com idade de 50 a 55 anos, quanto mais tempo passavam sentadas por dia, maior era a propensão a ter depressão. As que ficavam sentadas mais de 7h por dia tinham risco 50% maior de depressão quando comparadas com as que sentavam por até 4h dia. O risco de depressão chegava a 99% nas mulheres sedentárias quando comparadas com as que faziam exercícios por 30 minutos em alguns dias da semana. Nos homens também: se ficarem mais que 6h sentados, a prevalência de ansiedade e depressão se eleva muito se comparados aos que ficam menos de 3h nas cadeiras, como viu-se em 3.367 australianos.

Comida e cadeira tem alguma relação? Claro que têm de acordo com James Levine, um endocrinologista do Arizona e autor do livro “Get up” (Macmillan, 2014). Para magros e obesos, se depois de comer permanecer sentado, o pico de açúcar no sangue fica o dobro daqueles que se levantam após as refeições. Ganhar peso pode estar associado a longos períodos sentados e não a comida em excesso!

O que poderias fazer em pé ou andando em vez de sentado? Vamos, levante-se! Converse com seus clientes em pé. Veja o entardecer ou amanhecer e dialogue com seus filhos e amigos andando. O ganho de peso pode estar associado a falta de queimar calorias e não em quantas calorias foi ingerida. Em vez de usar o celular, recadinhos e e-mails, levante e se desloque até a sala ao lado ou o prédio vizinho: isto é ser inteligente com você mesmo!

Pode-se assistir aulas e fazer reuniões em pé! No estádio Maracanã, as arquibancadas mais baratas eram chamadas de “geral” e o torcedor assistia o jogo em pé, colocar as cadeiras foi retrocesso. Agora só falta você estar lendo este artigo sentado! Aliás, quantas cadeiras tens em sua casa?