Coluna de Ciências

Seria moderno ou contemporâneo?

Objetos somem, desaparecem! Que me lembre, tinha projetor de slides, havia filmes fotográficos e meu pai me contava que as pessoas penduravam “folhinhas” ou calendários nas paredes com paisagens maravilhosas. Nas borracharias e oficinas as paisagens eram substituídas por mulheres nuas!

Ao ouvir uma conversa de velhinhos, diziam: a Playboy não vai mais ser publicada! Um disse: ah, eu gostava tanto das reportagens! O cara parou na banca e dentro do carro gritou: moça, tem revista de mulher pelada? Educadamente ela disse, não, não vendemos mais nem a Playboy! Quantos sonhos foram alimentados nesta “recatada” revista! O jovem rapaz do carro estava apenas brincando, ele queria mesmo era a “pouca vergonha” das notícias do jornal.

A cafetina mais famosa do Brasil de todos os tempos viveu em Bauru, a Enny. Certo dia lhe perguntaram qual a razão de ter fechado as portas de seu famoso estabelecimento? Ela disse: quando os amadores passam a ganhar dos profissionais, é melhor abandonar o barco. O que as pessoas procuravam lá, agora encontravam nas ruas. Minhas meninas não eram mais distinguidas das demais quando passavam pelas ruas ou frequentavam o comércio da cidade. Tudo ficou igual!

Ao folhear impressos sobre florais de Bach me deparei com suas indicações e critérios. Tinha que responder sim a três perguntas para aquele ser o tipo usado. Em um deles as perguntas eram: você gosta de nostalgia? Vive de saudades? Acho isso muito interessante, pois alguns falam de nostalgia como alegria, amor e vantagens. Outros, quase encara a nostalgia como ofensa, fraqueza e debilidade mental. Eu heim! Florais neles.

Certas coisas dizem que são bregas como usar camisetas por dentro da calça e camisa-polo, também. Nossa, quem disse isto? Mas, para todos os efeitos eu não uso, vai que foi um decreto federal, estou na lei! Pior é usar cuecas, calcinhas e sutiãs de bolinhas e listras aparecendo marcando-se a transparência das roupas! Ai, ai, ai. Sentas um dia no shopping e fique observando! Dizia um filósofo popular: o mundo é brega!

As mães diziam: meu filho é muito feio comer em público! Andar comendo era impensável. Nas ruas, nos corredores dos shoppings quase todos andam comendo e a maioria de boca aberta, usando as mãos diretamente, quase todos “palmeirenses” incorrigíveis. Quase sempre comem sem olhar e o que pegam levam à boca, os olhos estão fixos na vitrine. Nem sabem o que comem. Os barulhos que escuto, as vezes, confundo se são chinelos de alguém andando ou a boca aberta de alguém comendo!

Se come em todos os lugares, as mãos são limpas nas roupas ou cadeiras, as bocas e dentes impregnados de comida dão um colorido diferente as lindas faces de pele oleosas e cabelos impiedosamente mal, mas supostamente, cuidados. Para onde irão os restos mortais como sacolas, recipientes de papelão e alumínio, latinhas, garrafas e caixinhas: uma parte para o lixo e a outra para servir de criadouros de mosquito e pernilongos nas sarjetas das ruas e calçadas “lindamente” preservadas. Os bueiros se entupirão e as ruas inundarão, depois a culpa será da natureza.

Um dia questionei por que faziam isto? Nem sabem! Um deles falou, isto é comportamento moderno! Não consegui me segurar e perguntei: você têm cinco minutos? Eu prefiro usar o termo moderno para um movimento artístico, cultural, estético e intelectual que iniciou-se no começo do século passado e terminou ao redor dos anos 70. Quando uso moderno, lembro de algo lindo do século passado como a semana de arte moderna. Talvez seja mais apropriado dizer contemporâneo ou atual. Ahhh, mas é tudo igual: - claro que não, por isto se precisa saber o que comes e o que pensas: para viver conscientemente como diriam Kant e Sartre!

Havia um tempo que as casas tinham porta-retratos, típicos do século passado ou “moderno”. Hoje, arquivo de fotos quando quiseres, é no celular. Geralmente este arquivo, dura semanas, depois esvazia-se e novas fotos são adicionadas. Fotos antigas são as do mês passado. As antigas mesmo são impactantes e os porta-retratos atuavam como janelinhas para ir ao passado! Cada olhadinha nele, é uma cascata de recordação: prefiro não tê-los! Que contemporâneo, hein! Será?


(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)